Medicamentos usados
frequentemente para reduzir a febre e a dor em crianças, o ibuprofen e o
naproxen, podem provocar lesões renais graves nos menores, especialmente quando
sofrem algum grau de desidratação devido à gripe ou a outras doenças. A conclusão é de um estudo de cientistas nos EUA,
hoje publicado na revista científica 'Journal of Pediatrics'.
A equipa de cientistas das universidades de Indiana
e de Butler, nos EUA, concluiu que quase 3% dos casos de lesão renal aguda
pediátrica registados ao longo de 11 anos no hospital pediátrico local podem
ser directamente associados à toma de anti-inflamatórios não esteróides comuns
(NSAID, na sigla em inglês).
Apesar de a percentagem ser aparentemente reduzida,
entre as crianças com problemas associados aos NSAID surgem quatro menores que
precisaram de hemodiálise e pelo menos sete que poderão ter ficado com doenças
renais permanentes, alertam os investigadores.
"Estes casos, incluindo alguns em que a função
renal dos pacientes terá de ser monitorizada durante anos, bem como o custo dos
tratamentos, são significativos, especialmente quando se considera que há
alternativas e que as lesões renais agudas provocadas por NSAID são
evitáveis" ‘ disse o nefrologista pediátrico Jason Misurac, que dirigiu o
estudo.
Embora estes fármacos tenham sido ligados a lesões
renais em breves estudos empíricos, o relatório agora publicado apresenta-se
como o primeiro estudo de grande escala sobre a incidência e o impacto da lesão
renal aguda provocada por NSAID.
A equipa de investigadores estudou os registos
médicos do hospital pediátrico de Riley, na Universidade de Indiana, entre
janeiro de 1999 e junho de 2010, tendo encontrado 1.015 casos em que os
pacientes tiveram de receber tratamento para lesões renais agudas de qualquer
origem.
Depois de excluírem os casos em que as lesões
poderiam ser explicadas por outros factores, como doenças que afectam a função
renal, os cientistas encontram 27 casos (2,7%) em que o único factor era a
administração de NSAID.
Os cientistas admitem contudo que muitos dos 1.015
casos tenham causas potenciais múltiplas, pelo que os 27 casos deverão
subestimar o número real de casos em que os medicamentos contribuíram para os
danos nos rins.
O estudo conclui ainda que 78% dos 27 doentes
estavam a usar NSAID há menos de sete dias e que 75% tomaram a medicação na
dosagem recomendada. Em 67% dos casos, a família admitiu que a criança tinha
sinais de desidratação.
A maioria dos pacientes era adolescente, mas os
menores de cinco anos, por motivos que os investigadores não conseguiram
identificar, foram afectados de forma mais grave: todos precisaram
temporariamente de diálise, tiveram mais probabilidade de ficar nos cuidados
intensivos e ficaram mais tempo no hospital.
Nenhum dos pacientes morreu ou sofreu de falência
renal permanente, mas 30% das crianças revelaram sinais de doença renal crónica
moderada após a recuperação do episódio de lesão renal aguda.
Os medicamentos em causa afectam a função renal ao
restringir o afluxo de sangue aos componentes dos rins que filtram o sangue,
pelo que o risco será maior se a criança estiver desidratada devido aos efeitos
da doença, nomeadamente aos vómitos e diarreia, adiantou Misurac.
Sobre as alternativas aos NSAID, o médico apontou o
paracetamol, mas não só. Considerando que a febre é normal em caso de infecção
e não é perigosa em si mesma, Misurac sugeriu que "outra alternativa é não
dar qualquer medicação, pelo menos por algum tempo, e deixar o corpo combater a
infecção".
Lusa/SOL, de 25 de Janeiro de 2013
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